Wednesday, January 2, 2013

O nascimento da Super-Vê

Nos anos de ouro das fábricas no automobilismo brasileiro, a Volkswagen foi a única a não participar. Willys, Vemag e Simca, e até mesmo a FNM, de forma não oficial, porém com sucesso, procuraram utilizar as pistas como meio de marketing. Uma revista QR do início do início da década de 60 dizia que o automobilismo era o segundo esporte entre a preferência dos brasileiros em termos de público (quem diria, será que ainda é?), ficando somente atrás do futebol, e a nascente indústria automobilística 100% nacional explorava o esporte para alavancar as vendas.

Enquanto isso, a VW, que tinha o carro de maior sucesso no mercado, se limitava a publicar anúncios nas revistas de automobilismo explicando por que não participava das corridas! Chegou a dizer que os pilotos, na rua, dirigiam Fuscas, o que provavelmente era verdade.

Em 1966, Paulo Goulart equipou alguns Karmann Ghia com motor Porsche, algo que Chico Landi já havia feito dois anos antes. Os carros logo provaram ser os mais rápidos do Brasil, porém, numa época de crise financeira no Brasil, Goulart não quis arcar com o financiamento da equipe sozinho. Fez uma proposta à Volkswagen, que não quis saber da história. Era a época de tremenda transição no mercado, com a saída de produtos da Simca, Willys e Vemag, e entrada da Ford, Dodge e Chevrolet nos próximos anos. Entretanto, a VW ainda reinava suprema, basicamente oferecendo o Fusca, a Kombi e o Karmann-Ghia. Os Fuscas usados, com pouco uso, valiam mais do que Fuscas nas concessionárias, que sofriam com longas listas de espera.

Nem mesmo a Fórmula Vê entusiasmou os pragmáticos alemães, que, diga-se de passagem, sequer se entusiasmavam pelas corridas na Europa e EUA. Alguma ou outra concessionária apoiou equipes da Vê, a fábrica chegou a oferecer algumas peças a custo reduzido, porém, tudo isso foi insuficiente para manter a categoria que fazia todo sentido para o país. O fechamento de Interlagos para reformas selou o futuro da Vê, que durou meros três anos, eventualmente tornando-se uma categoria carioca, e sofrendo uma metamorfose, transformando-se na mal fadada Fórmula Brasil.

Em 1973 as coisas já eram diferentes. Para começar, os motores VW tinham sido bastante desenvolvidos, e na versão 1600, a cavalaria tirada dos motores de Fuscas da D-3 era substancial, suficiente para perturbar os Opalas. A VW alemã e americana mudara a sua opinião em relação às corridas, e foram criados campeonatos da nova Fórmula Super-Vê nos EUA (Super-Vee) e Europa (Super Vau). A VW também mudara. Não se baseava somente no Fusca, KG e na velha Kombi. No Brasil, já lançara o 4 Portas, o TL, Variant, o TL 4 Portas, o Karmann Ghia TC, o SP2 e a Brasilia em 1973. Para 1974, prometia o Passat, o primeiro VW brasileiro refrigerado a água.

A concorrência acordara também. A GM lançara o Chevette em 1973, o Corcel da Ford continuava a vender bem, e até a Dodge entrava com um carro de menor porte, o Dodge 1800. Sem contar os insistentes rumores de que a Fiat viria para o Brasil.

Com a volta de combates ferozes entre as fábricas nas corridas de Divisão 1, protagonizados pela GM e Ford, de repente VW do Brasil precisava do automobilismo, pela primeira vez.

Assim a VW decidiu lançar o Campeonato Brasileiro de Fórmula Super Vê em 1974, com forte apoio promocional e financeiro nunca dado a uma categoria no Brasil.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami  

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