Monday, January 14, 2013

Até que a morte nos separe

Quem não conhece a famosa frase, dita aos milhões anualmente, em diversos idiomas, na conclusão de cerimônias de casamento?

Pois apesar da seriedade do ato, e intenções que julgo sinceras na maioria dos casos, um número cada vez maior de casamentos termina na sarjeta dos tribunais de família. No caso do Brasil, hoje em dia, facilitaram de tal forma a coisa que é possível "descasar" em tabeliães.

Os casamentos não são as únicas entusiasmadas, amorosas e puras intenções que acabam depois de alguns anos.

Dizem que se o casamento passa de sete anos, há maior possibilidade de vingar no longo prazo. Sete anos foram exatamente a duração da querida Fórmula Super-Vê no Brasil, até a VW se separar da categoria.

Oficialmente, via-se que as intenções da Volkswagen eram das mais puras. Numa entrevista dada à revista Grand Prix em 1974, o Presidente da VW na época (que também era o presidente no "divórcio" em 1980), Wolfgang Sauer, revela inclusive ser um grande amante das competições, dizendo que se pudesse, iria a todas as corridas da categoria.

Wolfgang, já nessa fase inicial, nos informava que queria trocar o nome da categoria para Fórmula Volkswagen. Na realidade, esta foi uma das poucas profecias e promessas desta entrevista que vingaram no longo - ou curto - prazo.

As circunstâncias que levaram ao fim da Fórmula VW serão discutidas eventualmente neste blog. Deleitemo-nos, no momento, com as promessas e visões do Herr Präsident.

Sauer prometeu completo apoio à categoria, o que de fato houve nas três primeiras temporadas. A partir de 77, o entusiasmo (e a grana) pareciam desaparecer, apesar de a categoria ter revelado dois pilotos de categoria, Ingo Hoffmann e Nelson Piquet.

Sauer dizia que a VW não tinha planos de trazer a Fórmula Vê de volta, porém, a categoria para carros de menor cilindrada voltou já no ano seguinte, na forma de um curto campeonato paulista, tornando-se uma categoria nacional em 1976.

Sauer também deu umas escorregadas. Disse que a categoria existia na Europa "há bastante tempo"(na realidade, só existia desde 1971, meros 3 anos), e foi um pouco ingênuo ao comparar a Super-Vê à F-1.

O próprio entrevistador fez uma pergunta que só posso classificar de estúpida para um jornalista especializado, ao perguntar se a VW pretendia montar uma equipe de fábrica...

O plano mais interessante revelado pelo executivo alemão foi de  exportar a categoria para o México, Peru e Venezuela, e quem sabe, realizar um campeonato Pan-Americano da categoria. Isto obviamente nunca chegou próximo de acontecer, embora, eventualmente, as sobras da Super-Vê tenham sido absorvidas na Fórmula 2 sul-americana.

Em suma, a VW obviamente estava imbuída das melhores intenções, entusiasmo e vontade de colocar a mão no bolso naquele 1974, porém, na mesma forma que as pessoas dizem que "ele(a) mudou, era uma pessoa diferente quando casei", a promessa de duradoura fidelidade entre a fábrica e a categoria não durou muito no caso da Super-Vê.    

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador do automobilismo baseado em Miami

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