Friday, January 4, 2013

A Fórmula 1 Brasileira

Nós, brasileiros, sempre fomos dados a um certo grau de ufanismo e exagero. Assim que a Fórmula Super-Vê, rebatizada Fórmula VW 1600 em 1976, logo passou a ser conhecida no país como a "Fórmula 1 Brasileira".

Na época os carros de Fórmula 1 já tinham aproximadamente 500 HP, e atingiam mais de 300 km por hora. Nossos Super-Vê, como motores de 1600 cc, estavam muito longe dessa cavalaria, de fato, longe mesmo da potência e velocidade dos carros de F2 e F3 da época.

Nem quando a F3 intenacional foi adotada como principal categoria de monopostos no Brasil, alguém ousou equipará-la a F1. Nem faria sentido, afinal de contas, Fórmula 1 é Fórmula 1, e Fórmula 3, Fórmula 3. Existem algumas razões quase plausíveis para o enfático apelido.

Primeiro, a eterna rixa entre os brasileiros e argentinos. Existia na época, uma categoria chamada Fórmula 1 na Argentina. É certo que de F-1 pouco ou nada tinha. A categoria não seguia os regulamentos da F1 internacional, de fato, os carros eram equipados com motores de carros de linha argentinos, devidamente preparados, com até 4 litros. Estava mais para F-5000 do que F-1, porém, o fato é que a categoria de monopostos para carros de grande cilindrada e potência existia entre os platinos, algo que não existia no Brasil, apesar dos sonhos de ACAvallone. Notem que além da F1, a Argentina também tinha sua F2, que também não seguia o regulamento internacional.

Além disso, nenhuma categoria na história do automobilismo brasileiro reuniu tantos pilotos de primeira na pista. Quem sabe a Stockcar atual. Isto, obviamente, a F3 nunca pode fazer, afinal de contas era uma categoria de base, que preparava pilotos para a futura fama.

Além de ser a categoria onde foi revelado o futuro tri-campeão da F1 Nelson Piquet, e deu a Ingo Hoffmann a primeira oportunidade de pilotar um carro de fórmula, a Super-Vê dos primeiros anos serviu de plataforma para um bom número de pilotos "fazerem a Europa". Mario Pati Jr, Fernando Jorge, Placido Iglesias são alguns dos nomes que vêm à minha cansada mente de sexta-feira à noite. Entretanto, cabe notar que um número grande de pilotos que disputou a Super-Vê nos primeiros anos tinha algum tipo de experiência internacional - Chico Lameirão, Tite Catapani, Antonio Carlos Avallone, Jan Balder, Norman Casari, Rafaelle Rosito, Ricardo Achcar, Ronald Rossi, Marivaldo Fernandes, Teleco, José Pedro Chateaubriand, Fausto Dabbur, Julio Caio. E eventualmente, outros pilotos com experiência internacional participaram da categoria, como Paulo Gomes e Antonio Castro Prado. Isso dava uma grande conotação de elite à categoria.

Diria também que no imaginário dos brasileiros, a categoria passou a ser nossa F1 quando os carrinhos quebraram a barreira dos 3 minutos na velha pista de Interlagos, palco da maioria das corridas da categoria entre 1974 e 1980. De fato, somente um outro carro de categoria brasileira havia quebrado esse recorde, mais do que recorde, um paradigma. Muitos diriam um grande "Pera lá", antes de chamar o Berta-Hollywood de D-4 brasileiro (inclusive eu!). O chassis era afinal de contas argentino, e o potente motor de 5 litros, embora "brasileiro", também era preparado por Oreste Berta. Já o Polar-VW pilotado por Nelson Piquet tinha motor produzido no Brasil, preparado pelo também brasileiríssimo Giba.

Assim, com ou sem ufanismo, a Super Vê brasileira ficou conhecida como a F1 brasileira durante algum tempinho. Infelizmente, não durou tanto quanto a Fórmula 1.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami    

No comments:

Post a Comment